segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Roda Viva

Tem gente (né, Thiago?) que não gosta quando postamos músicas. Mas fazer o que quando elas dizem tudo?

Roda Viva
Chico Buarque

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cotidiano

A baixa estatura e o corpo franzino denunciavam que não passava dos 12 anos. O bermudão azul que levava tinha o cordão apertado de forma que franzia as pontas do pano já gasto. Além disso, o garoto de olhos infantis trazia consigo apenas uma fitinha do Senhor do Bom Fim amarrada no punho esquerdo, mais nada. Ele sentou e, com os pés roçando a areia, observava o que um outro, este já bem mais velho e sem inocência nos olhos, fazia.

Meia estatura, rosto marcado das espinhas provavelmente adquiridas na mocidade, o homem de pele negra se sentou ao lado do garoto, mas em uma cadeira de praia. Ali ele parecia estar em um trono, e demonstrava isso pelo meio sorriso que não escapava do rosto. Com os cotovelos apoiados no joelho, ele deixava à frente uma mão em concha enquanto a outra segurava um papel fino, marcado de unha para facilitar o corte. Em questão de segundos se ouve: “Tem fogo aí, amigo”?, disse ele a um vendedor de Mate Leão, que interrompeu seu trajeto e retirou um isqueiro da pochete acomodada um pouco abaixo da barriga.

E ali ficaram os três, até que a ponta do papel tomasse forma e tivesse uma função mais específica. Daí então, o vendedor foi dispensando e continuou a recitar seu mantra de sobrevivência.

O homem mais velho recostou na cadeira e, depois de um longo suspiro, desabrochou a outra metade do sorriso. Enquanto isso, o menino continuava observando com ar de aprendiz. Ele também desfrutou da sensação do homem de pele negra, mas de uma forma infantil e inquietante para quem assistia a cena.

Depois de dois ou três movimentos mais fortes protagonizados pelo pulmão, o menino se estirou na areia e sentiu profundamente o mormaço do sol da tarde. Ele já não observava mais as ações do mais velho. Agora, parecia estar brincando em um carrossel. Os olhinhos se fecharam, a cabeça virou 90º, e os dedos tocavam lentamente a areia, aproveitando sua textura áspera. Ele sentiu o tempo parar.

Em instantes, a criança se levantou apoiando-se no braço da fitinha do Senhor do Bom Fim e foi em direção ao mar. Parado onde as ondas não podiam tocar mais que a ponta dos seus dedos dos pés, ele juntou um punhado de água salgada e jogou no rosto como se quisesse despertar. Fez isso também nos braços e pernas, mas agora por achar a sensação da água tocar sua pele prazerosa.

Como se despedisse do mar, subiu até o calçadão e seguiu seu rumo. Não se sabe quando seria sua próxima aventura no carrossel. Talvez hoje ainda. Ou até que a idade lhe impusesse outros desejos conquistados através de dois ou três longos suspiros.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Tempo, tempo

O perigo de falar de amor é cair no clichê e, ainda por cima, ser brega. Alguns artistas ou pseudo-poetas já passaram por isso e persistem no erro. Ainda bem que existe gente como o Chico Buarque e Vinícius de Moraes. Mas porque mesmo estou fazendo este nariz de cera? Bom, porque não sou nenhum Vinícius, muito menos Buarque (Bem que podia existir um Vinícius Buarque, imaginem?). To mais para os que persistiram no erro. A verdade é que eu queria encontrar uma forma de falar que ontem completei seis anos de vivência com a pessoa mais linda do mundo: o Thi.

Pois é, seis anos. Neste período já jogamos vídeo-game (teken, guitar hero, Mário, God of War, Prince of Pérsia, ixi um montão), fomos ao show do Slipknot, do Monobloco, Pedro Luis e a Parede, Tihuana, Plebe, e, em breve, iremos ao Dave Matthews Band. Comemos miojo, fomos ao Porcão, Galeria Gourmet, muito Giraffas e Mc, pedimos pizza de R$ 40 e R$ 9,99, além de termos descoberto algumas receitas (ai, aquele frango que o thi faz...). Ah, fizemos dieta. Também bebemos. E muito. Vários porres acompanhados das conseqüências. Fomos ao Maracanã, vimos o Obina na Gávea, rimos do vídeo do são paulino gay, xingamos juízes e suas gerações. Criamos apelidos que só a gente entende. Também passamos por fases muito difíceis, por perdas, mas pudemos ser pilares recíprocos. Fizemos amigos em comum que viraram nossa família (tem até espanhol o meio).

Nossa, são muitas, muitas coisas mesmo. Fora os casos engraçados, que devem ficar só entre mim e ele. Kkkkkkkkkkkkk

Thi, amo vc! Pra sempre.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Fim do Dia

Arnaldo Antunes

Demora tanto, demora tanto pra crescer
Pra depois de uma hora pra outra morrer
Tem que mamar, tem que comer e beber
Deixar vir e ir sofrimento e prazer

Não há o que lamentar
Quando chega o fim do dia

Um cara que anda tem que chegar em algum lugar
Um cara que trabalha trabalha trabalha deve se cansar
O cara estuda tanto e ainda tem tanto pra aprender
Passa o tempo e fica mais fácil esquecer

Não há o que lamentar
Quando chega o fim do dia
Não há o que lamentar quando chega o fim do dia
Se despede da sua dor
Diz adeus à sua alegria

Não há o que lamentar
Quando chega o fim do dia

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Poder da Amizade


Arroz com feijão, Fla x Flu e Maracanã, cerveja e cigarro, praia e sol, filé à parmegiana e Beirute. Existem coisas que, pra ficar bom de verdade, não se pode separar. Amizade e presença deveria ser uma dessas combinações inseparáveis, mas não é bem assim que acontece. A condição de ser adulto implica várias mudanças, inclusive na amizade. Não digo em sua essência, mas em sua convivência. O concurso, a pós-graduação no exterior, as horas dedicadas ao trabalho, e tantas outras regras do mundo “de gente grande” tomam o lugar das partidas de vídeo-game, das idas à Água Mineral, da conversa fiada, das risadas provocadas por circunstâncias, ocasiões e até substâncias diversas. E o que fica é a saudade que, na verdade, não combina com nada além de quarto escuro e CD da Maria Bethania.

Por outro lado, é incrível pensar e sentir que uma pessoa que pode estar a um oceano de distância está tão ligada à você. Quantas vezes entramos em devaneio lembrando dos bons momentos com aquele amigo tão especial e somos capazes até de escutar a risada dele? Acredito que esse é o efeito de um sentimento que combina em todos os graus com a amizade: o amor. É ele que deixa gravado em nossa memória as pessoas mais importantes, que nos motiva a esperar meses e até anos pra reencontrar alguém, que nos faz planejar viagens para os confins do mundo, que faz a gente balançar as mãos e falar com voz de criança: ele está chegando.

Acredito também que o amor é imutável e imortal. Por isso, pessoas queridas, estaremos sempre juntos, onde quer que estejamos, o que quer que vivamos, seja lá o que formos, seremos sempre AMIGOS.

Para: Samyra, Vitor, Eveline, Alexandre, Manu, Simon, Henrique, Loyas e tantos outros.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Praticidade


O difícil em escrever um texto é começar. Então vou logo para o fim: .

Monólogo

- Ué, você não vai atualizar seu blog?

- Não.

- Por que?

- Sei lá!

- Tem que ter um porquê.

- Sei lá, essa história de escrever às vezes me cansa. Fico me cobrando, pensando o que as pessoas vão achar das minhas vírgulas e acentos fora do lugar.

- É, acho que você precisa estudar mais português mesmo. Afinal de contas, você é jornalista (rs).

- Ah, vai se fuder. Escrevo do jeito que quero e na hora que eu quiser.

- Não é bem assim. Você até entrou no google pra ver o uso dos porquês. Toma vergonha! Vai praticar.

- Ah, você nem sabe o que estou pensando, sentindo. Nem sabe quem sou eu. Vai cuidar da sua vida. Do me blog, cuido eu.

- Claro que sei quem você é. Não somos a mesma pessoa?

- Ah, é!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Vida de drogado

Caros e caras,

por enquanto, meus pensamentos ainda não estão expressos em letras neste blog. Mas segue um ótimo texto do eterno Veríssimo. Divirtam-se!

Vida de drogado

Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta, depois quando você quiser é só parar..." e eu fui na dele.

Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", da terra, que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozinho e Xororó e em seguida um do Leandro e Leonardo. Achei legal, uma coisa bem brasileira. Mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez.

Lembro que cheguei na loja e pedi: Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano. Era o princípio de tudo!

Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... Banda Eva, Cheiro de Amor, Netinho, etc. Com o tempo, meu amigo foi me oferecendo coisas piores: o Tchan, Companhia do Pagode e muito mais.

Após o uso contínuo, eu já não queria saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer os quadris como eu nunca havia mexido antes. Então, meu amigo me deu o que eu queria, um CD do Harmonia do Samba. Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, razão do meu existir. Pensava só nessa parte do corpo, respirava por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais...Comecei a freqüentar osubmundo e correr atrás das paradas.
Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show e ao encontrodos grupos Karametade e Só Pra Contrariar, e até comprei a Caras que tinha o Rodriguinho na capa. Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro. Meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo.

Não deu outra: entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma música que não dizia nada, eu e mais outros 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorríamos e fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a Coletânea As melhores do Molejo". Foi terrível!! Eu já não pensava mais!!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas miseráveis e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, ao limiar da condição humana, quando comecei a escutar popozudas, bondes, tigres, MC Serginho, Lacraias, motinhas e tapinhas. Comecei a ter delírio e a dizer coisas sem sentido.

Quando saía à noite para as festas, pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas que queriam me mostrar o caminho das pedras... Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: Ki-Kokolexo.

Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de MPB, Bossa-Nova, Rock Progressivo e Blues. Mas o médico falou que eu talvez tenha de recorrer ao Jazz, e até mesmo a Mozarth e Bach.

Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam a visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabardrogado, alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável, distante. Vai perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de encher cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:

* Não ligue a TV no domingo à tarde;
* Não escute nada que e venha de Goiânia ou do interior de São Paulo;
* Não entre em carros com adesivos "Fui.....";
* Se te oferecerem um CD, procure saber se o indivíduo foi ao programa da Hebe ou ao Sábado do Gugu;
* Mulheres gritando histericamente são outro indício;
* Não compre um CD que tenha mais de 6 pessoas na capa;
* Não vá a shows em que os suspeitos façam passos ensaiados;
* Não compre nenhum CD em que a capa tenha nuvens ao fundo;
* Não compre nenhum CD que tenha vendido mais de um milhão de cópias no Brasil, e
* Não escute nada em que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.Mas principalmente, duvide de tudo e de todos. A vida é bela!!!! Eu sei que você consegue!!! Diga não às drogas!!

Luis Fernando Veríssimo

terça-feira, 1 de julho de 2008

Lei


Todo homem tem direito de pensar o que quiser
Todo homem tem direito de amar a quem quiser
Todo homem tem direito de viver como quiser
Todo homem tem direito de morrer quando quiser

Direito de viverviajar sem passarporte
Direito de pensarde dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de amar,
Como e com quem ele quiser

A lei do forte
Essa é a nossa lei e a alegria do mundo
Faz o que tu queres ah de ser tudo da lei
Fazes isso e nenhum outro dirá não
Pois não existe Deus se nao o homem
Todo o homem tem o direito de viver a não ser pela sua própria lei
Da maneira que ele quer viver
De trabalhar como quiser e quando quiser
De brincar como quiser
Todo homem tem direito de descansar como quiser
De morrer como quiser
O homem tem direito de amar como ele quiser
De beber o que ele quiser
De viver aonde quiser
De mover-se pela face do planeta livremente sem passaportes
Porque o planeta é dele, o planeta é nosso.
O homem tem direito de pensar o que ele quiser, de escrever o que ele quiser.
De desenhar, de pintar, de cantar, de compor o que ele quiser
Todo homem tem o direito de vestir-se da maneira que ele quiser
O homem tem o direito de amar como ele quiser, tomai vossa sede de amor, como quiseres e com quem quiseres
Há de ser tudo da lei
E o homem tem direito de matar todos aqueles que contrariarem a esses direitos
O amor é a lei, mas amor sob vontade
Os escravos servirão
Viva a sociedade alternativa
Viva Viva

Direito de viver, viajar sem passaporte
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de amar, como e com quem ele quiser

Todo homem tem direitode pensar o que quiser
Todo homem tem direitode amar a quem quiser
Todo homem tem direitode viver como quiser
Todo homem tem direitode morrer quando quiser

Raul Seixas