A baixa estatura e o corpo franzino denunciavam que não passava dos 12 anos. O bermudão azul que levava tinha o cordão apertado de forma que franzia as pontas do pano já gasto. Além disso, o garoto de olhos infantis trazia consigo apenas uma fitinha do Senhor do Bom Fim amarrada no punho esquerdo, mais nada. Ele sentou e, com os pés roçando a areia, observava o que um outro, este já bem mais velho e sem inocência nos olhos, fazia.
Meia estatura, rosto marcado das espinhas provavelmente adquiridas na mocidade, o homem de pele negra se sentou ao lado do garoto, mas em uma cadeira de praia. Ali ele parecia estar em um trono, e demonstrava isso pelo meio sorriso que não escapava do rosto. Com os cotovelos apoiados no joelho, ele deixava à frente uma mão em concha enquanto a outra segurava um papel fino, marcado de unha para facilitar o corte. Em questão de segundos se ouve: “Tem fogo aí, amigo”?, disse ele a um vendedor de Mate Leão, que interrompeu seu trajeto e retirou um isqueiro da pochete acomodada um pouco abaixo da barriga.
E ali ficaram os três, até que a ponta do papel tomasse forma e tivesse uma função mais específica. Daí então, o vendedor foi dispensando e continuou a recitar seu mantra de sobrevivência.
O homem mais velho recostou na cadeira e, depois de um longo suspiro, desabrochou a outra metade do sorriso. Enquanto isso, o menino continuava observando com ar de aprendiz. Ele também desfrutou da sensação do homem de pele negra, mas de uma forma infantil e inquietante para quem assistia a cena.
Depois de dois ou três movimentos mais fortes protagonizados pelo pulmão, o menino se estirou na areia e sentiu profundamente o mormaço do sol da tarde. Ele já não observava mais as ações do mais velho. Agora, parecia estar brincando em um carrossel. Os olhinhos se fecharam, a cabeça virou 90º, e os dedos tocavam lentamente a areia, aproveitando sua textura áspera. Ele sentiu o tempo parar.
Em instantes, a criança se levantou apoiando-se no braço da fitinha do Senhor do Bom Fim e foi em direção ao mar. Parado onde as ondas não podiam tocar mais que a ponta dos seus dedos dos pés, ele juntou um punhado de água salgada e jogou no rosto como se quisesse despertar. Fez isso também nos braços e pernas, mas agora por achar a sensação da água tocar sua pele prazerosa.
Como se despedisse do mar, subiu até o calçadão e seguiu seu rumo. Não se sabe quando seria sua próxima aventura no carrossel. Talvez hoje ainda. Ou até que a idade lhe impusesse outros desejos conquistados através de dois ou três longos suspiros.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
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